O Dia Em Que Conheci Conan


Havia um garoto na nossa turma, O Sérjão, que era colecionador fanático de quadrinhos, colecionava Marvel, DC, Turma da Mônica, Disney, tudo. Como ele era alguns anos mais velho do que alguns de nós, inclusive eu, era natural ele se interessar por publicações mais adultas como Aventura e Ficção, Heavy Metal, A lendária Revista Animal e A Espada Selvagem de Conan, claro que Playboys e Ele Ela’s faziam parte do pacote, mas estou falando de quadrinhos aqui.

Numa tarde de Sábado, como de costume, nos reunimos na casa do Sérjão para o de sempre, ver o que a gente ia aprontar naquele dia, foi quando percebi, jogada de forma até meio relaxada, sobre a mesinha que havia na varanda da casa, o primeiro exemplar de A Espada Selvagem de Conan, da Editora Abril. Imagine um garoto, que só lia Homem-Aranha, almanaques Disney e Turma da Mônica, dar de cara com a arte sombria e intrigante do mestre John Buscema numa história tenebrosa e cheia de mistério escrita pelo, não menos habilidoso, Roy Thomas como era Os Espectros do Castelo Rubro. Violência, mulheres seminuas e misticismo, tudo num lugar só. Foi uma torrente de adrenalina na cabeça daquele pivete.

Já tinha tido contato com obras de fantasia, filmes como Krull, A Lenda e O Cristal Encantado estavam nas minhas listas de melhores filmes, sempre. Mas até aquela manhã de Sábado, não conhecia o universo criado por Robert E. Howard. Quando Conan, O Bárbaro passou na TV, meus pais não me deixaram assistir. Sabe aquela coisa de “você é novo demais”, “esse filme é muito violento”, etc. (Quero deixar aqui o meu agradecimento por todo cuidado e dedicação que meus velhos tiveram em formar meu caráter.) Mas, como podem ver, existiam coisas que estavam fora do alcance deles. Fui conhecer o filme que deu fama ao Arnold anos depois, numa reprise, na Sessão das Dez, do SBT.

A arte, em preto e branco, da revista servia para compor o tom sério e adulto da história. Basicamente era uma história de vingança onde o cimério de bronze, buscando uma oportunidade de pilhar algum tesouro, se vê às voltas com uma filha desaparecida de um rei, e a maldição de vingança de soldados cruelmente torturados e mortos anos antes. Essa história ficou cauterizada na minha mente. Me lembro da sensação desconfortável que tive ao ver o desfecho sangrento e aterrador do conto.

Ao ler aquela revista, abriu-se um novo patamar de histórias em quadrinhos. Foi como um rito de passagem, a partir dali deixava, aos poucos, de ler Disney e Turma da Mônica e começava a conhecer publicações como as já citadas Heavy Metal, Aventura e Ficção, Animal além de umas olhadelas marotas nas Contos da Cripta que pipocavam nas bancas de jornais dos anos 80. Comecei a notar nomes como Moebius, Alan Moore, Simon Bisley e tantos outros artistas subversivos que mudaram a forma de como se fazia quadrinhos na época
.

Foi uma época de ouro para ficção e fantasia. Filmes com temática de capa e espada e ficção cyberpunk estavam no topo das listas das grandes bilheterias, Livros que ficaram um bom tempo no limbo como O Senhor dos Anéis e Neuromancer voltaram a cair no gosto do público.

Enquanto isso, eu era incentivado, pela minha professora de Português, a ler livros como Vidas Secas, Barro Branco ou Capitu. Até o dia em que ela caiu na besteira de pedir um resumo de um livro, como trabalho escolar, o título seria de livre escolha de cada aluno mas, isso é uma outra história.

O Dia Em Que Conheci Conan O Dia Em Que Conheci Conan Reviewed by Tulio Roberto on 3/28/2018 09:25:00 AM Rating: 5

4 comentários

  1. Ótimo relato. Me identifiquei bastante com sua história.

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  2. Krull, a Lenda e Cristal Encantado? Dá-lhe anos 80 hein! Apesar de que eu gosto de A Lenda com aquela cara estranha do Tom Cruise e do Cristal Encantado com aqueles elfos de madeira que me deixavam desconfortável. Quanto a Krull, prefiro os filmes do Simbad ou Historia sem fim. Agora falando de Conam...eu também encontrei a puberdade HQsistica com Conam, mas como sou dos anos 90, comigo foi com Conam, o cimério e depois com Rei Conam...esse tipo de HQ acabou me levando pra Dark Horse e editoras semelhantes.

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    1. Gosto de Krull, acho que pelo fato dele ser meio desconhecido, na época fiquei vidrado no Gládio, a arma do herói. Os filmes do Simbad era motivo de briga entre mim e meus irmãos. Eu queria assistir o filme na Sessão da Tarde e eles o Chaves no SBT. kkkk
      Dark Horse sempre teve ótimos títulos, principalmente os baseados em franquias como Alien, Predador, exterminador do futuro e acho até o Robocop.

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